segunda-feira, maio 29, 2006

Estórias que vendem

"O catolicismo (e o cristianismo, claro) é, lugar-comum, uma religião histórica, no sentido prosaico em que assenta numa história: sucedeu isto e aquilo, Jesus disse isto e aquilo. Qualquer alteração, deturpação ou interpretação heterodoxa dessa história agride ou enfraquece a Igreja, até, ou principalmente, se for fundada e, pior ainda, indiscutível."
Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 28-5-2006

Nenhum livro na actualidade (ou talvez nunca) suscitou uma polémica tão infantil como a que se tem vindo a observar junto dos intelectuais e até, pasme-se, do comum povo mortal. Não li o Código Da Vinci e não o lerei até se acabarem os livros que tenho há tanto tempo em cima da mesa de cabeceira ou que ainda não comprei mas espero vir a ler, porque são referências importantes para o meu desenvolvimento cultural. Vai demorar décadas. Teriam de acabar todos os grandes autores alemães, russos, franceses, ingleses, americanos e sul-americanos, africanos e asiáticos com nome no "hall of fame" da cultura mundial. Que eu saiba Dan Brown ainda não figura nessa lista, apenas se destaca por vender milhões de livros.
Ora o Código Da Vinci não pode ser uma grande obra. Admito que seja uma estória bem contada, com um enredo cativante e daquela intriga que nos faz ficar presos horas a fio até o mistério ser resolvido. Tem todo o mérito, como têm os livros que se levam para a praia, durante o Verão, para entreter enquanto sol faz o seu trabalho sobre as nossas peles tostadas. O Código Da Vinci é um "best seller" antes de o ser. Dan Brown foi pegar numa personagem (que, por acaso funda a maior parte daquilo que deveriam ser os valores da cultura ocidental) para criar um romance, e esta é precisamente a última forma como as pessoas encaram o livro. Como um romance.
Que se saiba a tal estória do código não tem fundamento - histórico - e a única personagem tirada de um contexto real é a de um professor, que por sinal estudou mesmo as obras de Da Vinci e a Gioconda, mas nunca descobriu quaisquer códigos secretos. Pior, nunca foi contactado por Dan Brown para confirmar as teses mirabolantes apresentadas no livro.
Toda esta discussão é absurda e a Igreja só faz mal em reagir negativamente, da mesma forma que os leitores, como Vasco Pulido Valente, caem na falácia de achar que o Código Da Vinci se trata de uma interpretação da vida de Jesus e que daí decorre uma agressão ou um enfraquecimento da fé das pessoas.

9 comentários:

Morlock disse...

Vão ver os X-Men III! Tem menos fantasia e ficção, e os personagens são mais verosimeis!
Não vi o filme mas li (infelizmente) o livro. É uma mistura de contos dos irmãos Grimm com sketches dos Gato Fedorento com apontamentos de Dali! Ou seja: uma confusão pegada!

Mipo disse...

Adorei o livro. Prendeu-me a atenção do princípio ao fim. Gostei dele como gosto dos livros do John Grisham.

Para o resto não tenho pachorra. Levar aquilo "a sério" é embrulhar tudo à espanhola. De tal maneira que se chega quase ao ponto de se mostrar o quadro do Da Vinci como uma prova do que se passou há 2000 anos...

Father R. Filipe disse...

Meu amigo....ou melhor ex-amigo lolol (humor negro)
O livro é bom pela história, não és obrigado a acreditar no que está lá escrito. Por isso deixa lá de ser intelectualoide e lê o livro....que eu saiba és uma pessoa de ideias fortes (ou não) por isso não é uma boa história policial que vai mudar a tua fé pela igreja católica ou maná ou outra qq. Se quiseres empresto-te....tá lá na estante a apanhar pó.

Cumprimentos para o Sr. Dr. e afalfadelas para o jornalista...

Father R. Filipe disse...

The thing that should not be....és sempre a mesma coisa lolololol

Vai ver o filme....nem que seja para ver a Audrey Tautou :D (O tau é mesmo do nome dela atenção)

Morlock disse...

Desculpem lá, eu sei que gostos não se discutem e blá blá blá, mas... o livro é bom pela história e prende a atenção?
Acho que até a MRP (não vou escrever o nome completo, pois não quero ser processado) consegue fazer melhor! Lindo, lindo é a anti-matéria em bolandas por Roma no anjos e demonios. É de chorar a rir!

Mipo disse...

yup, prende a atenção; não necessariamente a tua, mas a minha prendeu.

Dos anjos e demónios já não gostei. E o outro já não vou chegar a ler. É por isso que não percebo, the thing....: se já não gostaste do 1.º que leste dele, porque foste ler um 2.º?

Neves dos Santos disse...

Para esclarecer quaisquer dúvidas, se afirmei ser falacioso que o livro agrida ou enfraqueça a fé, é porque não vai mudar nada na minha fé

Father R. Filipe disse...

Uiii escusas de ficar chateado Jarhead. Aqui ng morde......só se existir alguma cobra entre nós.....e por falar nisso lolol

Morlock disse...

Eu pensava que não podia ser pior do que o código, BIG MISTAKE!