quinta-feira, maio 04, 2006

Abaixo o poder da Igreja

A Igreja só pode existir se não tiver poder. Melhor, a Igreja que assim se chama como actualização do Evangelho de Jesus, só faz sentido se for desprovida de qualquer poder, se não puder colocar crucifixos nas escolas, se não beneficiar de Concordatas com o Estado, se não for uma autoridade moral.

Pode parecer chocante este discurso, mas não é. Quem foi Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus, senão aquele que apresentou um projecto contra todo o poder, contra todos os "pactos de regime" que os poderes estabelecem entre si para oprimir mulheres e homens de todos os tempos? Jesus foi, precisamente, o modelo de humanidade e entrega que chamou a atenção de todos em relação à cegueira de nos deixarmos reger por leis escritas pelos que detêm a chave da cidade, a chave dos templos e dos cofres. Dando a vida.

A Aliança que Jesus estabeleceu foi com as mulheres e homens frágeis e indefesos, com os pobres e os excluídos. Não foi com os líderes religiosos e príncipes dos sacerdotes, nem com o rei Herodes, nem mesmo com o governador romano de turno Pôncio Pilatos. E essa é uma realidade que existia então como existe hoje, passados dois mil anos.

Por isso, em vez de nós - Igreja - nos preocuparmos com os caminhos que as sociedades decidem tomar para viverem melhor e mais livres, devemos preocupar-nos em sermos testemunho para os pobres, os que não têm voz, os ignorados e desprezados, os abusados e violados na sua dignidade. Tirem-nos - a nós, Igreja - todos os privilégios e saberemos executar melhor a nossa missão.

15 comentários:

@ndrei@zul disse...

conheço um padre que diz muita sabiamente (pelo menos na minha opinião) que Jesus Cristo não veio fundar nenhuma igreja nem nenhuma religião, o que aconteceu depois foi o que os homens quiseram fazer desta sua "filosofia de vida". e sim acredito nisso, acredito que sme todo o poder, toda a riqueza haveriam muito menos obstáculos para cumprir a nossa missão. acredito ainda que existiriam maiores complicações devido à menor capacidade de influência e menos dinheiro para ajudar os mais pobres. no entanto, se tivesse que escolher, escolheria, sem dúvida, a primeira opção de não termos nem poder nem riqueza. no meio disto tudo esta não é por certo a Igreja ideal, mas é a que temos e nela continuo porque apesar de tudo acredito ser a melhor e que eu (sem nenhuma pretensão superior) posso mudá-la um bocadinho todos os dias com o meu testemunho de serviço. afinal.. a Igreja não é, SOMOS.
baci

neptuno disse...

A igreja idealizada só poderia existir se não tivesse poder; mas não se desvincula uma coisa da outra. Afinal de contas, o facto de ter poder sob as mais diversas formas é característica basilar da instituição. Existem no mínimo 3 soluções: ou a igreja se extingue e se funda uma completamente nova só com as partes boas da última, (à semelhança de ordens como as de cister e cluny com base na ordem de s.bento)ou muda-se de religião; A última hipótese é mais provável.
Ou ainda: é-se cristão, não se é católico(citado...;o)...); Não é de todo necessário pertencer àquela instituição ou qualquer outra para praticar o bem segundo lá o outro senhor do pé semi-descalço.
Resumindo, a igreja não tem de alterar nada: ela existe tal como a conhecemos, com mais defeitos que virtudes e ou a aceitamos como tal ou não. As simple as that. Não a transformamos, não substituímos nem adulteramos os seus princípios ou formas de agir e de se concretizar no mundo. O objecto não deve mudar, seria artificialmente perigoso se o fizéssemos. O sujeito sim, deve tomar aquilo que pretende para si, livre de escolher e de alterar princípios para si mesmo, faz parte de uma evolução primária.
Se partirmos da premissa: «A igreja só pode existir se não tiver poder» - a igreja tem poder - logo, a igreja não pode existir.
E a igreja É e não SOMOS, o verbo ser é "pessoal e intransmissível".

Morlock disse...

Jovem, tás confuso. Igreja é sinónimo de poder, assim como religião. Mas porque carga de água é que os cristãos acham que inventaram estes termos e estes conceitos. Cristo não disse nem fez nada de novo. Apenas reformulou velhas teorias que muitos pagãos sempre defenderam, mas que por outro lado não tinham interesse em implementar porque iria contra os interesses instituidos de demasiados membros de "igrejas" e "religiões". Já agora, a melhor coisa a fazer a uma igreja ou religião é ignorá-las e esperar que morram de tédio (wishfull thinking). Para teminar, o verbo ser é pessoal e intrasmissivel, mas aplica-se no plural. Afinal de contas, nós SOMOS o que SOMOS em parte por causa do que nos rodeia. A nossa individualidade só existe se comparada com a individualidade de outrém. Vamos sempre precisar do plural para viver.

Morlock disse...
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Katharina disse...

O caso do verbo SER... Somos ou não somos Igreja, eis a questão! ;)
Acho que muito das discórdias demonstradas nos comentários anteriores sobre o ser ou não igreja relacionam-se com as suas diferentes definições. O que significa o termo "Igreja"?
Procurando em diversos livros, internet e nos diálogos diários das pessoas que me rodeiam chego à conclusão que é sem dúvida uma palavra polissémica, com pelo menos dois significados. Por um lado, serve para referir a estrutura hierarquizada de cardeais, bispos, padres, etc.; e por outro, um conjunto de pessoas que partilham uma mesma religião - comunhão de ideias e crenças.
Assim sendo, não sou igreja no primeiro caso porque não faço parte da estrutura eclesial, mas sou igreja no segundo caso por ser católica!
Vendo as coisas desta forma, é óbvio para mim que nunca se conseguirá esperar uma igreja sem poder se pensarmos nela enquanto estrutura eclesial (como qualquer outra instituição), no entanto, acredito que essa estrutura eclesial só existe porque existe "povo" (2º significado de igreja). Como resultado desta iteracção entre o 1º e 2º significados de igreja, surge o 3º significado: "Igreja" é assim um conjunto de pessoas que partilham uma religião (e que vivem segundo os seus princípios de forma conciente) e se organizam segundo uma estrutura em que cada pessoa tem uma função específica (que pode ser eclesial ou não).
Esta última definição de igreja é dinâmica, já que depende das pessoas e das exigências dessas mesmas pessoas... E assim sendo, ela será aquilo que nós (TODOS os que dela fazem parte, ou se assumem como tal) quizermos que seja e aquilo que estivermos dispostos a que seja!
Esta é apenas mais uma opinião e por isso vale o que vale... Mas é assim que tento viver a Igreja de que faço parte!

Katharina disse...

Ah, e esqueci-me do mais importante. A Igreja de que faço parte é Cristã, e por isso mesmo vive segundo o estilo de vida proposto por Jesus Cristo... Que se pode resumir a uma única coisa: "Amar, sem condições, todas as pessoas".

Morlock disse...

"estilo de vida proposto por cristo"...
Conceito curioso, já que esse mesmo estilo de vida vem descrito por terceiros na biblia. A fé que as duas maiores religiões do mundo professam baseia-se unica e exclusivamente no pressuposto de que algumas pessoas são melhores que outras e por isso poderam ter acesso privilegiado seja à palavra de deus, seja à palavra dos profetas. Devo recordá-los que até ao séc. XV, quando Gutemberg imprimiu a primeira biblia, os chamados textos sagrados variavam de acordo com a vontade do papa e dos concilios. Eu respeito a figura de cristo, como humano, um homem muito à frente do seu tempo, mas quanto à faceta divina...

Neves dos Santos disse...

Erro. A fé em que se baseiam as duas maiores religiões do mundo NÃO tem como pressuposto que algumas pessoas são melhores que outras. A fé vive-se intrinsecamente, não é comparativa nem avaliativa. Aceito apenas esse argumento se forem invertidos os termos. As religiões (organizadas em igrejas), que institucionalizaram a fé das mulheres e dos homens baseiam-se, na maioria dos casos, no pressuposto de que as pessoas, através de ritos como a eucaristia e a oração, conseguem estar mais próximos de Deus. As religiões impõem normas, regras, condutas. A fé não.

Father R. Filipe disse...

The Thing that should not be uma pergunta - O que é que tu acreditas? É que passas a vida a criticar tudo, mas soluções não as vejo e por vezes até utilizas uma politica ditatorial em relação a tudo....ou seja tu tens razão os outros estão errados.

Uma coisa nos devemos mentalizar nada é perfeito, sejam religiões, politicas ou pessoas....e nunca nada vai ser perfeito. O mais importante é respeitarmo-nos e mesmo quando falhamos isso saber perdoar e aprender com os erros...francamente jarhead às vezes pergunto o que é feito do Jarhead que conheci....é que ainda não entendi se a religião é para ti algo como fuga do passado ou foi algo que já vinha de trás....a mim pareceu-me a 1ª hipótese. Mas isto são opiniões e como alguém disse um dia são como as vaginas….lolol

Neves dos Santos disse...

...e quem quiser dá-la, dá-la. E como há quem a dê sem olhar a meios, as opiniões e juízos de valor ficam com quem aqui os escreve. Agora atenção, nunca é bom haver uma religião que vem detrás.

Morlock disse...

O deadman a defender religiões?
A minha alma tá parva!!!
Não és tu que passas a vida a dizer que ninguém te compreendee que não sabe aquilo por que tu passas e que só tu compreendes a vida?
Eu já te conheço de outros carnavais e a diferença é que eu dou a minha opinião porque quero e não porque me pedem! Ou devo ouvir a opinião dos outros e ficar calado porque é politicamente correcto?

Jarhead... Dizes que a minha ideia é um erro? Explica-me então de onde é que tu vais desencantar a tua fé?

Deadman... Eu acredito na humanidade! A coisa mais estúpida e ignorante que a natureza se deu ao trabalho de criar e à qual eu tenho muito orgulho em pertencer. Não preciso de "ideias divinas" ou "fé de manual" para ter fé nas pessoas.

Mipo disse...

Qualquer religião é uma expressão colectiva de uma fé pessoal. A igreja é sempre feita de pessoas - claro que só pode estar pejada de imperfeições, como tudo o resto... Por isso é que dá trabalho - ir aprendendo e corrigindo.

Quanto à fé, é individual e ou se tem (com maior ou menor intensidade) ou não se tem.

Oh Jarhead, quando é que actualizas aqui o tasco? Não se "posta" nada? Falam, falam, falam...

Neves dos Santos disse...

Caro Thing, a fé vem-me das entranhas!

Morlock disse...

Jarhead dixit!
A minha vem da falta de paciência (e da certeza que para o ano o grande FCP é campion outra bez!).
FORÇA PORTO, ALLEZ!!!!

Father R. Filipe disse...

The Thing..... Sonhas....e muito.....para o ano os lamps tem o Engº do Tenta....tás lixado LOLOLOL ou não :D