Continuamos a ser importadores. Há cinco séculos que o somos e, se no início desta estratégia conseguimos ser competitivos com interposto comercial de especiarias e matéria-prima então desconhecidas na Europa, desde o século XIX que o fazemos de forma completamente ineficaz, salvo a excepção das artes, da arquitectura e da literatura, em que os chamados “estrangeirados” como o Eça se revelaram grandiosos contributos para a cultura portuguesa.
Ontem Sócrates visitou a Finlândia para se inspirar naquele modelo de sucesso. Como o cábula que se senta, durante o exame, ao lado do melhor aluno da turma. Revela perspicácia do primeiro-ministro mas uma igual dose de irrealismo e preguiça. Tentar importar o modelo de uma sociedade que nada tem a ver com a nossa, latina e mediterrânea, é quase comparável aos erros cometidos em África quando se tentaram implementar sistemas políticos e sociais à semelhança do que se praticava nas democracias europeias. E vejam no que deu...
Ainda ninguém se lembrou que é a mentalidade que está inquinada. O “modelo finlandês” surgiu num contexto de recessão no início da década de 90, é certo. Como a nossa dez anos depois. Mas já então o Estado social daquele país nórdico era altamente desenvolvido, ao contrário do nosso até nos dias de hoje. Lá, havia uma interacção entre sectores público e privado e entre universidades e empresas, baixos níveis de corrupção e altos níveis de confiança no Estado, uma forte identidade nacional, construída historicamente contra a ameaça de grandes vizinhos externos. Vá-se lá encontrar comparação com Portugal...
Outra coisa de que ainda ninguém se lembrou de referir é que, para se ser grande em planos tecnológicos tem se desenvolver tecnologia e, que eu saiba, não temos nenhuma empresa tipo Nokia ou Siemens... A única coisa que conseguimos exportar são os “cérebros”, e que de nada nos servem, o vinho do Porto (maioritariamente de capitais britânicos), o vinho da Madeira e a cortiça (graças a Deus que temos o Mourinho a defendê-la além fronteiras).
Não é a copiar que vamos ser brilhantes, sobretudo porque nem sequer alcançamos o significado do que o nosso colega finlandês está a escrever na folha de exame. Podemos até passar mas continuamos medíocres.