sexta-feira, março 31, 2006

Quem sou eu, afinal?

«É impressionante verificar, na minha vida diária, a enorme diferença que existe entre cinismo e alegria. Para onde quer que vão, os cínicos procuram a escuridão. Apontam para os perigos à espreita, para as motivações impuras, para os motivos ocultos. Chamam à confiança, ingenuidade; à atenção, romanticismo; e ao perdão, sentimentalismo.
Sorriem, com desprezo, perante o entusiasmo, ridicularizam o fervor espiritual e menosprezam o comportamento carismático. Consideram-se realistas que vêem a realidade tal como é e que não se deixam enganar pelas "emoções de evasão". Mas ao desprezarem a alegria de Deus, a sua escuridão provoca maior escuridão.
Em cada momento do dia tenho a oportunidade de optar pelo cinismo ou pela alegria. Cada pensamento que me ocorre pode ser cínico ou alegre. Cada palavra que pronuncio pode ser cínica ou alegre. Cada acto que realizo pode ser cínico ou alegre. Cada vez tenho maior consciência destas opções e cada vez mais descubro que cada uma das opções pela alegria, conduz a uma alegria maior e faz que se descubram mais razões para fazer da vida uma verdadeira festa na casa do Pai.»

Henri Nowen,in O Regresso do Filho Pródigo

terça-feira, março 07, 2006

Os cábulas da Europa

Continuamos a ser importadores. Há cinco séculos que o somos e, se no início desta estratégia conseguimos ser competitivos com interposto comercial de especiarias e matéria-prima então desconhecidas na Europa, desde o século XIX que o fazemos de forma completamente ineficaz, salvo a excepção das artes, da arquitectura e da literatura, em que os chamados “estrangeirados” como o Eça se revelaram grandiosos contributos para a cultura portuguesa.

Ontem Sócrates visitou a Finlândia para se inspirar naquele modelo de sucesso. Como o cábula que se senta, durante o exame, ao lado do melhor aluno da turma. Revela perspicácia do primeiro-ministro mas uma igual dose de irrealismo e preguiça. Tentar importar o modelo de uma sociedade que nada tem a ver com a nossa, latina e mediterrânea, é quase comparável aos erros cometidos em África quando se tentaram implementar sistemas políticos e sociais à semelhança do que se praticava nas democracias europeias. E vejam no que deu...

Ainda ninguém se lembrou que é a mentalidade que está inquinada. O “modelo finlandês” surgiu num contexto de recessão no início da década de 90, é certo. Como a nossa dez anos depois. Mas já então o Estado social daquele país nórdico era altamente desenvolvido, ao contrário do nosso até nos dias de hoje. Lá, havia uma interacção entre sectores público e privado e entre universidades e empresas, baixos níveis de corrupção e altos níveis de confiança no Estado, uma forte identidade nacional, construída historicamente contra a ameaça de grandes vizinhos externos. Vá-se lá encontrar comparação com Portugal...

Outra coisa de que ainda ninguém se lembrou de referir é que, para se ser grande em planos tecnológicos tem se desenvolver tecnologia e, que eu saiba, não temos nenhuma empresa tipo Nokia ou Siemens... A única coisa que conseguimos exportar são os “cérebros”, e que de nada nos servem, o vinho do Porto (maioritariamente de capitais britânicos), o vinho da Madeira e a cortiça (graças a Deus que temos o Mourinho a defendê-la além fronteiras).

Não é a copiar que vamos ser brilhantes, sobretudo porque nem sequer alcançamos o significado do que o nosso colega finlandês está a escrever na folha de exame. Podemos até passar mas continuamos medíocres.

sexta-feira, março 03, 2006

Será que Freitas do Amaral bebe?

Depois de ler as últimas declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, na Assembleia da República, só uma ideia me passa pela cabeça... Freitas do Amaral tem problemas com a bebida!
No Público lê-se que o ministro (ora de direita, ora de esquerda, ora de quem o apanhar) “sustentou que a condenação da violência contra as embaixadas ‘não era essencial’ mas antes ‘pôr água na fervura’”. A declaração ultrapassa o absurdo e o senhor ministro devia saber utilizar melhor as palavras, já que parece dar-lhes tanto valor. Não saberá, porventura, que pôr água na fervura só adia o transbordar mas aumenta o seu volume?? Talvez fosse melhor pôr água no lume, digo eu.....
Como se não bastasse, em reacção às acusações do CDS de não condenar os actos violentos contra embaixadas, Freitas considerou que “os ataques aos edifícios eram ‘uma reacção condenável, mas compreensível, face às ofensas enormes feitas à comunidade islâmica por um jornal de extrema-direita dinamarquesa’”. Ponhamos as coisas nos seus devidos lugares. Condenável mas compreensível? O quê? Como o Holocausto à luz do seu contexto económico? Como o 11 de Setembro à luz das crenças de quem o praticou? Tudo é condenável mas compreensível, nesse sentido... desculpável diria Freitas. Quem se recordar que uma das primeiras visitas de José Sócrates foi a Líbia governada na "democracia musculada" de Kadhafi, um dos grandes exportadores de petróleo, perceberá por que quer a diplomacia portuguesa “pôr água na fervura”. Vejam lá se não se enganam e deitam gasolina...
Depois, o ministro fala de “ofensas enormes” de um “jornal de extrema-direita”. Reflecte o sentimento geral dos dinamarqueses, das comunidades ocidentais? Não, não reflecte. Assim como os ataques a pessoas e edifícios ocidentais não são arquitectados pela maioria da população islâmica mas por pessoas eficazes, com interesse em instrumentalizar as massas para agudizar uma “guerra de civilizações”.
Não tenho muitas dúvidas de que se está a criar uma nova Cortina de Ferro a partir de onde, uma vez mais, se divide o mundo em dois opostos. Só que, em vez de ideológicos, são extremos religiosos e culturais à beira de uma explosão, mais grave do que o nuclear.