segunda-feira, maio 31, 2010

Não há comparação possível

Portugal

 
não é a Grécia

















Isto não vai correr bem

Quem pensou na calendarização para aplicar o mal afamado Plano de Austeridade não sabia o que estava a fazer. O que é estranho, na medida em que tivemos os líderes mais jeitosos do país a planeá-lo juntos num fim-de-semana, há duas ou três semanas, naquele intervalo de tempo em que o mundo mudou.
Lançar medidas de austeridade no dia em que começa oficialmente a época estival é um erro crasso. Desta forma, como se poderá fazer a necessária consciencialização dos esforços e da aplicação destas medidas fiscais suplementares e esta redução das despesas do Estado?
"Austeridade" e "esforço patriótico" são diametralmente opostos a "praia" e "férias de Verão". Não podiam adiar isto para meados de Setembro? Aí sim, não haverá dinheiro, com a vantagem de não nos lembrarmos para onde foi nem como.
Ou será que a dupla do tango sabia bem demais (sem perder votos nas eleições que se antecipam) que muito mais facilmente se conseguirá meter a mão no bolso do povoléu, sem que este se aperceba, porque deixou a carteira em cima da toalha enquanto se afastou para dar um mergulho?
Nada melhor que o calor, umas caipirinhas, e um mundial de futebol para se entreter as gentes.

Escutas ao processo "Cara de Pau"

Por estes dias, as conversas de Rui Pedro Soares (RPS) com Paulo Penedos (PP) ao telemóvel devem ser qualquer coisa do género:

PP: Então tens acompanhado a visita do nosso homem no Brasil? Achas que ele vai dar uma corrida no calçadão? Sabes como estas coisas caem bem na opinião pública. Se é para apertar o cinto, ao menos que seja com estilo e a suar!
RPS: Pois é pá! Parece que o "grande chefe" lá conseguiu que o Lula o levasse a tirar umas fotos na casa do gajo, do Chico.
PP: Do Chico? Quem, o Pinto Balsemão? Pá, o chefe é mesmo muito à frente, já é a segunda vez que ele consegue ir a uma reunião do Clube de Bilderberg. É os maçons, agora estes. Está em todas!
RPS: Não pá. Estou a falar do Chico Buarque. O "grande chefe" conseguiu marcar um encontro com o tipo e os jornais interpretaram como um convite por parte do gajo ao nosso primeiro. Isto calha mesmo bem, até lhe chamamos um figo...

Manuel Alegre

Poeta-astro do regime. Sapo que, na fábula chamada Presidenciais, o Rato teve de engolir.
Curriculum Vitae: menino que pregava pregos numa tábua

Faltam menos de 24 horas...

... para o plano de austeridade. Acabaram-se os almoços grátis. Acabaram-se, aliás, os almoços.
Não faz mal. Camarada, se perdeste o emprego, se tens fome, deixa de ser caprichoso. Não sejas careta, entra no espírito. Põe a boca ao serviço e toca de soprar na vuvuzela  até te saírem os olhos das órbitas. Vem apoiar Portugal.
Mas faz um favor, não esperes que Portugal te apoie a ti. Não sejas egoísta.

sábado, maio 29, 2010

Freud também explica a golden share

Dispense-se a Comissão de Inquérito ao negócio PT/TVI! Arrumem-se as traquitanas e mandem-se as senhoras e senhores deputados para casa. Feche-se também o dr. Mota Amaral numa embalagem em vácuo e conserve-se bem para, de futuro, se fazer respeitar a Constituição em situações que possam revelar-se atentatos velados ao Estado de Direito.
A propósito da eventual OPA da espanhola Telefónica sobre a PT, o primeiro-ministro veio puxar dos galões e acenar com a "golden share" que o Estado tem na Portugal Telecom. "Para Portugal, a PT é uma empresa estratégica. É por isso aliás que temos uma 'golden share'. É para nós estratégica se for uma empresa grande, se tiver uma ambição de participar naquilo que é a economia global, de estar presente em vários continentes, como está a PT. (...) Nós queremos uma PT grande, uma PT com escala".
Ora, se isto não é um autêntico deslize freudiano, não sei o que será. Deixemos de lado as respostas (escritas com a ajuda dos spin doctors de serviço) às 80 perguntas da comissão. Na folha em branco, José Sócrates sabe bem afirmar uma coisa e o seu contrário, sem mentir. Atenção, sem nunca mentir.
Já a quente, sem as "fichas" preparadas, resvala-lhe o pé para o chinelo, como acaba de acontecer, admitindo que o governo está, como tem de estar, por dentro das negociações existentes na PT por ter a tal golden share que, por ironia, vai ser impedido de usar por Bruxelas por violar a legislação comunitária.
Em 24 de Junho de 2009, o PM afirmava com a veemência que lhe é característica, que "o Estado não se mete nesses negócios", da participação da PT na TVI, apesar da bem conhecida vontade de calar uma linha editorial oposta aos interesses do Partido Socialista.
Também recebeu uma SMS de Vara confirmando a saída da "Manela", "não digas nada", mas não mentiu. Não mentiu.
Bem, de facto diz a sabedoria popular que uma mentira dita muitas vezes pode tornar-se uma verdade. Pelo menos na cabeça de quem a profere.

sexta-feira, maio 28, 2010

A austeridade da crise

Quando chegamos ao ponto em que as medidas de austeridade obrigam a eliminar medidas anti-crise é porque estamos mesmo mal, não é?
Sou eu ou o aumento do IRS em 1 e 1,5%, do IVA da Coca-Cola e dos iogurtes bifidus activus e os 2,5% adicionais no IRC das empresas com mais de 2 milhões de lucros são medidas anti-crise, perdão, de austeridade? Ou são as outras? Os cortes no subsídio social de desemprego, a redução do número de dias de trabalho para efeitos de atribuição do subsídio de desemprego e o fim do alargamento do abono de família aos escalões 2 a 5 por conta das despesas de educação?
Dói-me a cabeça.

Porque o Pathos que não nos larga

Os gregos têm o Pathos e nós, os portugueses, temos o "Fado" de ter por primeiro-ministro um indivíduo que se intitula de Sócrates.
Se nos queremos definitiva e inequivocamente descolar da Grécia, não seria mais fácil que o PM começasse a chamar-se José Pinto de Sousa, como vem lá no Cartão do Cidadão? Só assim para acalmar os mercados financeiros. Nem que fosse por uns meses. Isso conseguíamos perdoar-lhe.
É que talvez já nem fossem necessárias as medidas de austeridade.

Vocês é que são Europeus, vocês


Quem não se lembra das Eleições Europeias 2009? Bom, talvez ninguém se lembre, foi há quase um ano. Mas a verdade é que o PS e o "avô cantigas" Vital Moreira adoptaram aquele mítico slogan de fervor federalista "Nós, Europeus". Já nem portugueses éramos. Éramos, nós todos, do Minho ao Algarve, europeus, cidadãos do mundo civilizado. Irmãos com as demais nações do Velho Continente, nos fundamentos e na filosofia que tem por base a construção de uma unidade em torno dos mesmos valores, do mesmo esforço comum em construir um espaço verdadeiramente comunitário. Isso e mais qualquer coisa.

Agora é vê-los.
"Cuidado com a Alemanha", Freitas do Amaral
"A situação de Portugal é completamente diferente da grega", José Maria Ricciardi (BES Investimento)
"Portugal e Grécia não estão no mesmo barco", Jean-Claude Trichet (presidente do BCE)
"Comparação à Grécia é injusta e despropositada", José Sócrates

Somos todos amigos, mas só quando os mercados estão a dormir.

quarta-feira, maio 26, 2010

O Regresso dos Especialistas (versão Mundial da Crise 2010)

Não deixa de ser confrangedor ver que, para convidados de um programa da SIC Notícias, sejam chamados a debater a actual situação financeira nacional/ europeia quatro eminências absolutamente comprometidas, na sua história pessoal e profissional, de forma efectiva ou "simplesmente" pelas vielas políticas em que se foram movendo, com o actual estado de coisas.

Luís Nazaré, ex-dirigente do PS nomeado presidente dos CTT para substituir Horta e Costa logo a seguir à vitória nas eleições legislativas de 2005, liderou o Instituto de Comunicações de Portugal (ANACOM) e tem ligações muito fortes ao Benfica. João Ferreira do Amaral, que hoje aparece na capa no Jornal de Negócios com a parangona de que a economia tem sido destruída pelo Euro, acompanhou o ex-presidente Mário Soares como consultor no período da integração de Portugal na CEE, tendo sido membro do comité de Política Económica da então comissão e da OCDE. A seguir temos Mira Amaral, com o percurso político que se conhece, com passagem pela CGD e mais recentemente com o presidente executivo em Portugal do cinzento Banco BIC (Angola). Por último, António Nogueira Leite. Se Teixeira dos Santos é a mãe biológica da Santa Maria Austeridade, este professor de economia bem pode reclamar-se como mãe adoptiva. Actualmente vogal do CA da Brisa (atenção ao corte nesse rating), o mesmo cargo que ocupa ou ocupou em inúmeras outras empresas (CUF, etc), desempenhou funções como secretário de Estado do Tesouro e Finanças em 1999 no governo de António Guterres...
Mira Amaral e Nogueira Leite têm até pontos comuns que não deixam de ser bastante curiosos num cenário de eventual alternância política da governação. Ambos pediram a cabeça de Manuela Ferreira Leite depois das eleições que reconduziram José Sócrates nos des(a)tinos do país em 2009, apoiando a candidatura interna de Pedro Passos Coelho e ambos têm experiência em colaborar com o PS num ou noutro momento da história recente de Portugal.

É a isto que chamam um painel de convidados com opiniões transversais. Não há dúvida que assim o esclarecimento público é garantido. De certeza que fariam diferente e com menos recurso ao jogging. Estamos bem entregues.

terça-feira, maio 25, 2010

Portugal Estupidificado

Felizmente que, com tantas notícias que nos deitam abaixo, tantos ataques especulativos dos mercados contra a soberania nacional, temos o "Regresso dos Incríveis" (soa um pouco a profecia).

Diz o site da SIC que "todos eles vão falar do que nunca falaram e mostrar o que o Mundo nunca viu. As vidas, as casas, os carros, as famílias, os segredos, os desafios mais ousados e as imagens mais surpreendentes.

Em 2008, “Os Incríveis”, com Cristiano Ronaldo tornou-se no programa de entretenimento mais premiado internacionalmente na história da Televisão Portuguesa depois de vencer o Festival Mundial FICTS, em Milão, de ter sido eleito o melhor documentário no 4º Festival Internacional de Desporto Televisão e Cinema da zona asiática e ter sido reconhecido com o prémio máximo no 12º Festival Internacional de Liberec, na República Checa."

Eu sabia que éramos grandes mas agora tenho a certeza. Se não fosse para rir desatava já a chorar.

Piada de mau gosto

Depois do episódio do Avastin, que aconteceu já vai para um ano no Hospital de Santa Maria, se o Público captou bem as palavras antes do deputado Ricardo Rodrigues ter obliterado todos os gravadores do hemiciclo, a oposição só pode estar a brincar.

Plano de austeridade lá de casa

Aumentar as receitas:
- Voltar a pedir a mesada aos pais porque o BES não está a emprestar dinheiro (nem a conseguir emprestado)

- Poupar

- Pedir um cartão de crédito para pagar a prestação da casa

- Não pagar a prestação da casa

- Pagar as prestações dos empréstimos só depois do Verão

- Poupar

Cortar nas despesas (depois de enviar o vale de correio para a África do Sul com €368):
- Não pagar a prestação da casa

- Dizer ao gerente do banco que estou a sofrer um ataque especulativo na minha dívida externa

- Regozijar-me com a sobretaxa de 1,5% de IRS sobre o meu vencimento, já que assim tenho menos para gastar

- Fazer um crédito individual só de €5.000 pré-aprovado, para ir de férias de Verão para Ibiza, e esquecer os planos de €10.000 para o Nikki Beach em Albufeira (já a pensar no aumento do IVA)

- Não comprar o passe social a partir de Julho

- Não beber Coca-Cola

Venha ao Pingo Doce de Janeiro a J...Junho









Porque depois a Coca-Cola já vai estar mais cara (IVA 6%). "Soube bem pagar tão pouco"

sexta-feira, maio 21, 2010

Não quero ficar na bicha, avanço já com a promulgação

Carta Aberta de um eleitor não homologado pelo PR:

"Pergunto se não seria útil dar conta dos efeitos desta promulgação no que diz respeito aos eleitores do actual Presidente da República.

É que eu, por exemplo, não votarei neste senhor nas próximas presidenciais. Votarei em branco. Traiu por todas as formas a expectativa que nele muitos depositávamos de constituir um contra-peso de bom senso nesta absurda agenda fracturante "civilizacional", começando pelo referendo ao aborto, que convocou imediatamente, e terminando nesta triste promulgação.

Para mais fê-lo desprezando os seus próprios poderes constitucionais, com base num inqualificável argumento utilitarista. Para mim acaba por ser indiferente que seja este o Presidente da República ou outro qualquer, como por exemplo o Manuel Alegre (nem acredito que tenhamos chegado a isto...).
Já nem as pessoas que tínhamos como rectas conseguem fazer política com alguma coragem: tudo se faz na base de frios cálculos pragmáticos eleitoralistas.

Pois bem. Talvez este cálculo tenha saído errado, porque muitas pessoas como eu deixaram de ter algum motivo para votar neste senhor. Muitos que eu conheço já me disseram que não voltariam a votar nele. E penso que o sentimento é mais genérico do que me mostra uma mera observação empírica. Pois a base eleitoral do actual PR não é precisamente aquela que é contrária a este tipo de leis iníquas?
Não seria bom que o senhor PR tivesse a consciência de que, para além de ter abdicado dos seus princípios - que pareciam até estar reforçados pela visita do Santo Padre - abdicou também (de muitos) dos seus eleitores?"

Estêvão da Cunha

Quatro anos depois...

Estamos na mesma... só "o mundo mudou, e de que forma". José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal, ainda país.