sexta-feira, julho 19, 2013

Sobre mixórdias salvacionistas

"(...) todos poderiam unir-se, como fizeram, mas só podiam unir-se para o esforço de subversão, não para obra construtiva. Não se pode ser liberal e socialista ao mesmo tempo; não se pode ser monárquico e republicano; não se pode ser católico e comunista - de onde deve concluir-se que as oposições não podiam em caso algum constituir uma alternativa e que a sua impossível vitória devia significar aos olhos dos próprios que nela intervinham cair-se no caos, abrindo novo capítulo de desordem nacional." AOS

quarta-feira, maio 09, 2012

Regresso ao futuro... e de volta

Frutos da pobre noção de temporalidade histórica nacional, passado, presente e futuro, os responsáveis políticos, gente da alta finança, comentadores de turno e fazedores de opinião têm por hábito apresentar, dos microfones para a Nação, a nossa "situação de carácter extraordinário", a "conjuntura estrutural", a "austeridade" e a "crise", em suma, como algo de inédito, um fenómeno inesperado que tem origem no desmando de governos anteriores (leia-se PS ou PSD, dependendo do clube que está ao leme),e que os "mercados" nossos credores penalizam.

Recuando 120 anos, não mais, a disputa partidocrática entre Progressistas (de pendor esquerdista-republicano) e Regenerador (social-democracia) oferecia-nos isto:
«Na particular conjuntura do período inicial do seu reinado (1889), para além da crise política e moral motivada pelo Ultimatum, outro factor de excepção com o qual D. Carlos teve de se confrontar foi o agravar da situação económica do País e a consequente deflagração de uma séria crise financeira. O princípio da década de noventa do século XIX correspondeu a uma vaga de depressão económica que atingiu praticamente todos os países da Europa. Em Portugal o período de crise ocupou quase toda a década, entre 1891 e 1898, e teve o seu pico de agravamento nos anos de 1891 e 1892. O primeiro sinal da crise veio logo em 1890 quando o governo português, ao tentar obter um empréstimo em Paris teve, por exigência dos emprestadores, de consignar uma parte dos rendimentos do monopólio estatal do comércio dos tabacos ao pagamento dos respectivos juros.

«Durante o longo período que sucedeu à Regeneração, após 1851, o País foi criando hábitos de crédito consecutivos de modo a poder pagar os grandes investimentos em transportes e obras públicas que se fizeram nessa época. Mas a partir de certa altura, os empréstimos já se contraíam para pagar os juros de outros empréstimos e Portugal passou a governar-se através da chamada dívida flutuante, gerindo-se sempre acima do possível, num equilíbrio muito periclitante. Em 1891 a dívida externa e a dívida pública no seu total correspondiam, respectivamente, a 20% e a 40% das despesas do Orçamento de Estado [em 2010, antes da 'troika' já eram 36,7% e 63,3%].
«(...) Em termos práticos, o novo governo teve sérias dificuldades em arranjar aplicabilidade à sua doutrina de simultâneo resgate moral e económico do País. Suspenderam-se os aumentos dos vencimentos dos funcionários públicos, diminuiu-se drasticamente a orçamentação das obras públicas, aumentaram-se os impostos directos e indirectos.

«(...) O descrédito e a desconfiança foram os efeitos da radicalização do esforço de equilíbrio das finanças públicas. Todo este processo exigiu grandes sacrifícios aos Portugueses e resultou numa inflexão negativa da imagem internacional de Portugal. A opinião pública, naturalmente, ressentiu-se da situação e, como já seria de esperar, direccionou parte significativa do seu rancor para o rei. A Coroa era responsabilizada por toda a miséria do País e pelo lapso de modernidade que separava Portugal dos restantes países da Europa."

in "D. Carlos de corpo inteiro", Editora Objectiva, 2009

terça-feira, abril 03, 2012

A Páscoa dos nossos tempos



Entrámos na Semana Santa e percebemos, neste momento tão importante da vida cristã - mais até do que o Natal, transformado em época alta para oportunidades comerciais - o quão arredados andamos do Reino de Deus que Jesus Cristo anunciou. Falar de Jesus, hoje e nesta sociedade, é escandaloso, é fanático, está fora "deste tempo" e da modernidade. Na verdade, dificilmente como nos tempos dos nossos contemporâneos faria tanto sentido olhar para o testemunho de Cristo, na Sua compaixão pela humanidade, como agora, pois também a mensagem por Ele transmitida há mais de dois milénios era escandalosa, radical e fora daquele tempo e daquele mundo.

Portugal, enquanto País e Povo que foi outrora globalizador e (cometendo maiores ou menores erros, segundo os critérios politico-ideológicos actuais) evangelizador, levando a civilização e fé cristã para outras culturas e outros continentes que ainda hoje e voluntariamente as adoptam, está transformado num lugar pantanoso cujas lideranças esbracejam para manter a cabeça à tona na sua "ética republicana e laica". As ideias de "crise" e "austeridade", impostas como fatalismos aos quais não é possível escapar, fazem o seu caminho exactamente ao arrepio do que é a esperança invocada pela fé cristã. Negoceiam-se feriados "civis" por feriados "religiosos" e vice-versa como se fossem moedas de troca inventadas por calões e preguiçosos, para apresentar em folha de serviço de um memorando sem memória ou qualquer peso identitário, aos nossos senhores e soberanos da Europa.

Mas não se julgue que o problema é apenas político. É social, cultural, familiar e geracional, é empresarial, está nas relações de trabalho. O Deus dos cristãos e os negócios não se misturam. Estaremos, no entanto, a mentir se dissermos que não há um sentido religioso, ainda que pagão, nestes meandros da nova sociedade em que voluntariamente nos tornámos, a partir de determinada altura em que nos deixámos encantar pelos chamados "ventos da História", de um socialismo libertário e progressista. Aborto, casamento homossexual, eutanásia, divórcio online, mudança de sexo e de nome. Causas fracturantes para, como fracturas que são, causarem dor e virem mais tarde a pedir uma cura.

Libertemo-nos daquele Deus limitador da Bíblia e adoremos estes deuses representados no sucesso individual, nos gestores de topo, nas carreiras. Cobiçam-se os prémios milionários, os dividendos, a posição dos accionistas, a bolsa e os mercados como entidades etéreas, omnipotentes e omnipresentes. Celebrem-se, não os feriados que marcam algum ponto histórico relevante ou celebração que coloque um povo em comunhão, mas as datas das assembleias de accionistas, para anunciar as "mais-valias" e os dividendos, as emissões de "dívida soberana". Lucros recorde da EDP, Galp, PT, OPAs sobre a Brisa, spreads bancários, capital chinês, dinheiro benzido pelos Dos Santos angolanos, enquanto Roma arde, enquanto as pessoas ficam um pouco mais pobres, um tanto mais oprimidas. Serão estes líderes, directores, administradores católicos, cristãos? Haverá aqui algum lugar para o Reino de Deus, anunciado na Páscoa?

Sim, mais do que nunca. Só que, neste tempo de redenção que é a Páscoa, de remissão dos pecados, enquanto o Poder vertido nas pessoas que o exercem a todos os níveis da sociedade, não compreender que deve ser acima de tudo Serviço, em que Deus terá necessariamente de estar presente nos gestos e nas decisões para o Bem e a Verdade, seremos conduzidos para a destruição e para a extinção como Povo e Pátria-Nação livre e indepedente.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Cimeiras da Europa para europeu ver... same old bullshit

 Estava-se em 1939 e a Alemanha ia invadir a Polónia...

«Lá estava eu, um ser atento, pensante, trabalhando à margem de qualquer política, entregue ao meu trabalho, com esforço e em silêncio, dedicado a transformar em obras os meus anos de vida. E lá estava também, algures, uma dúzia de outros tantos homens, invisíveis, que não conhecíamos, que nunca tínhamos visto [...] e aqueles dez ou vinte homens, dos quais apenas apenas uma minoria tinha revelado até então uma especial prudência e habilidade, falavam e escreviam e telefonavam e pactuavam acerca de problemas que os outros ignoravam.
Tomavam decisões para as quais não éramos consultados e que não conhecíamos em pormenor, e assim iam determinando definitivamente a minha própria vida e a vida de todos os outros europeus. Era nas suas mãos e não nas minhas que o meu destino se encontrava agora. Eles destruíam-nos ou poupavam-nos, a nós, os sem-poder; eles permitiam-nos a liberdade ou reduziam-nos à escravidão, eles decidiam da guerra ou da paz de milhões de pessoas.
(...)
Mas, com lentidão enervante, a bola indecisa ia rolando para cá e para lá, na roleta da diplomacia. Para cá e para lá, para lá e para cá, preto e vermelho, vermelho e preto, esperança e desilusão, boas e más notícas, sem nunca vir a última, a decisiva.»

Stefan Zweig, O Mundo de Ontem - memórias de um europeu

quinta-feira, novembro 24, 2011

Quem gosta de estar "orgulhosamente sós" afinal

Logo pela manhã tínhamos um - mas podiam ser dois ou três visto que o discurso é comum - líder de uma central sindical regozijando-se por ter paralisado o País. "Os aviões não levantaram, os navios não acostaram nos portos nacionais, os comboios estão parados, o Metro está fechado, o parque industrial da Autoeuropa - responsável por 1/10 das exportações da produção portuguesa está paralisado, a adesão é a maior de sempre!". Dizem eles isto...

Digo eu: que orgulho do caraças!

Liberdade paisagística

Uma investigação científica rigorosíssima de especialistas estrangeiros descobriu a razão pela qual, nas últimas décadas, as rotundas se tornaram tão presentes na paisagem urbanística nacional.
Foi um agradecimento da classe política vigente, para dizer aos portugueses que viram no golpe de Estado a entrada num novo regime de "amplas liberdades e garantias", que andaram estes anos todos a ser ROTUNDAMENTE enganados.

sexta-feira, outubro 28, 2011

Marcar posição

«Todos os que temos, pela inteligência, pela voz do sangue ou simplesmente pelo instinto do coração, a consciência da nossa unidade e independência, da nossa grandeza passada, da nossa colaboração na obra civilizadora da Europa, sentimos - ferida aberta na alma - o riso mundial, a troça de povos em nada superiores a nós, a não ser na sua linha exterior, por causa da nossa incapacidade governativa, das nossas irregularidades de administração, do nosso atraso e do nosso descrédito.
«Temos sido, numa palavra, enxovalhados e vexados. Ora há portugueses suficientemente orgulhosos da sua qualidade de portugueses para sentirem isso como afronta pessoal e para, chegada a ocasião, tirarem do seu orgulho ferido a paciência, a tenacidade, a força necessária para procurar implantar no País a ordem e a boa administração, fomentar o progresso material, revolucionar a educação e dar à Nação e à sua política um tal aprumo e dignidade que possam reconquistar para Portugal o bom nome e o respeito de todos. 
«Esses portugueses sabem que, sem exageros, sem agressividade, sem declarar quixotescamente guerra ao mundo, os países, como os indivíduos, podem pelo seu trabalho e pelas suas virtudes, ter direito os pobres a estar diante dos ricos, os pequenos diante dos grandes, de pé, de cabeça levantada e até de chapéu na cabeça
AOS

terça-feira, outubro 18, 2011

Que fazer do Estado-a-que-chegámos

«Um país, um povo que tiverem a coragem de ser pobres, serão invencíveis»
(...)
«A unidade nacional alicerçada na antiga fidelidade e convivência dos povos espalhados pelas várias províncias de Portugal é a base indispensável - a única verdadeiramente eficiente - da nossa defesa. A consciência dessa unidade há-de ser o mais forte escudo contra a acção das propagandas externas, mas não constitui só por si toda a defesa. Esta temos de organizá-la nos planos correspondentes à multiplicidade de métodos usados contra nós.
Entretanto, temos de continuar a nossa vida, executar os nossos programas, promover os nossos empreendimentos, tão firmemente, tão serenamente como se não fosse já escândalo para o mundo a pretensão de continuarmos a defender o que muitos vêem ameaçado e alguns julgam mesmo perdido, na esteira de acontecimentos recentes que, aliás, se processaram em linhas muito diversas.
Não vejo que possa haver descanso para o nosso trabalho nem outra preocupação que a de segurar com uma das mãos a charrua e com outra a espada, como durante séculos usaram os nossos maiores. Esta nova tarefa, cujo peso nem sequer podemos avaliar, é desafio lançado à geração presente e vai ser uma das maiores provas da nossa História. É preciso ter o espírito preparado para ela; exigirá de nós grandes sacrifícios, a mais absoluta dedicação e, se necessário, também o sangue das nossas veias. Esta é a nossa sina, isto é, a missão da nossa vida, que não se há-de amaldiçoar mas bendizer pela sua elevação e nobreza
AOS

Uma dica, estes não são discursos proferidos pelo PM, Passos Coelho nem pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar.