segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Chamada de atenção

"É preciso mudar de registo e não falar para sufocar interrogações. É preciso fazer mais perguntas, por exemplo: se Deus existe, como explicar o mal? Se Deus não existe, donde vem o bem? Deus também se revelou extremamente vulnerável!
O recurso ao plano religioso para encobrir a dor do mundo é uma falta de respeito pelo mistério de Deus e pelo mistério do sofrimento.
Mas assim ainda estamos no campo da busca de explicações para aquilo que não precisa só de explicações. (...) Os chamados “milagres” não são uma solução ou uma receita; são um sinal, uma indicação de que o mal não se explica, não é uma fatalidade, combate-se. Jesus, ao não deixar a receita, indica que os milagres não servem para substituir nem o engenho nem a vontade de transformar o mundo. Gosto de observar que Jesus não veio para resolver os nossos problemas, mas para nos resolver a que nos resolvamos a resolver o que deve ser resolvido por nossa conta e risco. (...)
A vida cristã apoia-se num tripé: lucidez, trabalho e oração. Como redescobrir e suscitar o gosto do silêncio, do testemunho e do desejo de servir?
Havendo no mundo recursos e conhecimentos (ou podendo haver) para cuidar da alimentação e da saúde de todos, por que será que há tanta gente mergulhada na solidão, na fome e no sofrimento?"

Frei Bento Domingues, Público, 5 Fevereiro

17 comentários:

Mipo disse...

em última análise, resume-se tudo a uma questão de fé; e aí, como dizia o outro, é que reside o busílis...

@ndrei@zul disse...

genial.. antes de mais obrigada por isto..
e depois.. porque será?!!... queria mesmo saber!!
baci

Katharina disse...

Há textos que merecem ser dados a conhecer... Sem dúvida, tens feito excelentes escolhas!
Como fazemos na oraçao do pobre, repito uma das frases:
"Jesus não veio para resolver os nossos problemas, mas para nos resolver a que nos resolvamos a resolver o que deve ser resolvido por nossa conta e risco."

Anónimo disse...

Att: Katharina: Via directa ou indirecta, «deus» está sempre na origem, é sempre responsável pelas nossas decisões e actos que se lhes seguem? Give me a break. E não é que os homens tentam justificar a não criação de um «deus» pela necessidade?? Têm de argumentar melhor do que isso.

Anónimo disse...

Só uma pergunta katherina..Tu tb só vais dar o teu corpo qd te casares? Tb só vais fazer "amor" com o teu futuro parceiro sempre sem persevativo? É que isso são os designos do vosso Deus, Jesus e da vossa Igreja.....Acordam.

Katharina disse...

Deculpa João... Mais uma vez o teu blog serve para troca de respostas que nada têm a ver com ele, mas como não conheço a identidade de quem "me comentou", tenho apenas duas hipóteses: ou respondo aqui ou fico calada (o que seria ignorá-lo, coisa que não é o meu forte!).

"Anonymous",
Não quero pregar nem evangelizar, sei que isso não faz sentido nenhum. Podes não acreditar mas há uns anos eu era ateia e pensava tal como tu quanto ao Deus que ouvia apregoar pelos cristãos, mulçulmanos, judeus,...
Para além de ateia, sou extremamente teimosa e só acredito naquilo que posso compreender ou sentir!
Pensa o que quizeres, mas deixa-me pensar também aquilo que eu quizer... Qual de nós estará certo?! Será que isso realmente interessa?... Procura a resposta dentro do teu coração que eu procuro no meu e deixa-te guiar pelo único índice que deveria interessar: a alegria sincera e a paz completa! Já o sentiste? Se hoje sou cristã foi por ter percebido que, para mim, este é o caminho para o atingir.
Tenho amigos ateus e budistas que encontraram outros caminhos, ainda bem que assim é, ainda bem que encontraram uma estranha para caminhar! E é isso que te desejo, que encontres a tua estrada...
Um conselho, se me permites, procura saber mais sobre as coisas antes de falar delas e tenta não criticar o que não compreendes... Para os cristãos, Deus não é O responsável, pelo contrário - Deus deu-nos o livre arbítrio, e por isso nós somos os responsáveis pelos nossos actos, pelas coisas boas e pelas coisas más que nos acontecem. Só que vêmos Deus nessas coisas, ensinando-nos e a ajudando-nos em cada uma delas.
Não tenho de argumentar nada, apenas ser prova com a minha vida daquilo em que acredito!
Quanto à última "pergunta"...Sei que é uma provocação, e por isso escuso-me a responder. Digo-te apenas que temos a liberdade de escolher um caminho e que Deus não proíbe nada, apenas nos pede para sermos coerentes na nossa vida! Não existem fórmulas mágicas para se viver Deus, apenas através da oração pessoal pudemos descobrir o que Ele nos pede...
Boa caminhada!

Anónimo disse...

Att: Katharina (Anonymous 1 (8:17pm)) diz: ainda bem que não é o teu forte ficares calada. Respondeste à letra, não esperava outra coisa. Destaco as seguintes ideias: «procura saber mais sobre as coisas antes de falar delas e tenta não criticar o que não compreendes» e «Qual de nós estará certo?! Será que isso realmente interessa?...» É precisamente por aí. Por isso não tomes nada como absoluto, é a associação e interdependência bem/religião que não me parece, de todo, coerente. É a necessidade de haver um «guia espiritual» que embrutece a mente daqueles que se tornam dependentes de uma «instituição religiosa», crentes de uma legitimidade de acção contrária à ideia de bem e de livre arbítrio. Relativamente ao teu crescimento pessoal na religião, eu fiz o percurso inverso, achei que era relevante esclarecer.

Katharina disse...

Não tem de haver necessariamente um embrutecimento da mente, pelo contrário... Talvez tenha sorte, mas aqueles que fui conhecendo ao longo deste caminho de descoberta de Deus sempre que mostraram que devemos pensar por nós e defender aquilo em que acreditamos e não aquilo que nos dizem para acreditar! Uma subtil diferença que faz muita diferença... ;)
(Ah, não percebi porque te mantens no anonimato...)

Father R. Filipe disse...

Desculpe João mas tinha de comentar aqui umas coisas....

Eu vou ser franco só acredito no que vejo, e como tal não acredito em Deus. Mas no fundo desejo que exista algo. Quem? não o sei. Acho que o Homem tem medo da morte e tem medo de encarar a dura realidade ou seja morremos e acabou. No meu coração desejo que exista algo mais....mas o que vejo faz-me perder a esperança. Onde está "Deus" qd mais preciso? Tudo o que fiz e consegui foi por mim próprio.
Sou contra a igreja católica ou qq tipo de religião acho que não deixam as pessoas pensar por si próprias. Respeito as pessoas que acreditam isso mas vejo que essas mesmas pessoas não respeitam as que não são. Dou um exemplo simples, os homossexuais.....a igreja não os respeita,. Outra coisa dita por um anónimo é a questão do uso do preservativo. Catarina não achas que a igreja devia defender o uso do preservativo para prevenção da SIDA? Obviamente concordo que a Igreja católica tem evoluído mas muito lentamente. Os fundamentos de Jesus Cristo e o que eu acho deviam ser de toda a humanidade era respeitarmo-nos todos, sabermos perdoar e ajudar quem precisa....e claro o maior principio de todos amar a vida e o próximo. Acho que certas mudanças não vão em nada alterar o principio fundamental…….
O meu "Deus" ou aquilo em que eu acredito é no Amor. Isto se calhar acaba por ser uma contradição….mas acho que deu para entender.

Cumprimentos,
Ricardo

Father R. Filipe disse...

Ah e não sou o anónimo......

Katharina disse...

O uso do perservativo... Pois... sabes, já não sei o que dizer sobre isso!
Defendo o uso do preservativo para protecção contra o HIV, no entanto, pelo que vejo, começo a ter dúvidas se nos defende ou se nos torna ainda mais prisioneiros... Muitas campanhas para controlo da SIDA são um fracasso e parece que só pioram a situação! Acredito que o problema seja a falta de esclarecimento: o preservativo é por vezes encarado como um remédio e não como uma ajuda.
Quanto à Igreja, já falei com muitos padres sobre isso e é um problema muito mais complicado, mexe com muitas coisas e com uma em especial: a banalização das relações sexuais! E não estou a falar de "sexo só depois do casamento" - não é isso o mais importante para a Igreja, mas a estabilidade de uma relação!
Outra coisa, não sei se sabes, mas muitos missionários católicos recomendam, desde há muitos anos, o uso de preservativos em determinadas missões... Incoerentes ou flexíveis?! Pois não sei... Sei que a Sida é um problema nada trivial e a Igreja também não o encara de forma trivial!
Quanto ao teu "Deus" ser o Amor... Então temos o mesmo Deus! ;)
Inté

Father R. Filipe disse...

Esclarecido ;)

Neves dos Santos disse...

Sr. Deadman, pode sempre participar, aqui e em qualquer parte, de discussões construtivas. E senão aqui, noutro lado que queira...
Deus é Amor, todos de acordo. O problema de sempre tem sido viver essa relação com Ele. Temos mais necessidade de questioná-Lo em vez de O viver, acusá-Lo em vez de O ouvir. Pensemos num Pai que vê, num lugar sem tempo e sem espaço, toda a linha das nossas vidas. Onde é que está Deus quando Dele precisamos? Ou está no nosso coração ou é melhor procurarmos outro bode expiatório para justificarmos os males da nossa vida. E será que são males?..... Uma ideia, Deus, Jesus ou o Espírito Santo não são opções, não são alguém a quem possamos andar de joelhos a pedir coisas em troca de promessas. Manifestam-se sim nessa ausência de medo perante a morte, na ausência de ressentimento perante a adversidade. Quanto à evolução da Igreja, se mudasse à mesma velocidade dos tempos, estaria tão morta quanto as ideologias que hoje regem os Estados.

Father R. Filipe disse...

Eu continuo a questionar se Deus existe onde está ele......Só acredito no que vejo e ele não o vejo. Por isso digo o meu Deus é diferente é algo que se vê.
Pq estaria morta a igreja? O homem evoluiu e que eu saiba ainda anda aqui........

Neves dos Santos disse...

Vês o amor? Vês a ética? Vês a alegria e a angústia? Vês o Mal e o Bem? Vês o socialismo? Nenhuma dessas coisas é palpável e, no entanto, existem. Através de acções e palavras, momentos, costumes. Deus manifesta-se assim, no Homem. O Absoluto em que acreditas é o teu Deus, não há dúvida. Nem sequer vou regatear isso. Mas onde o encontras, se o vês?
Em relação à evolução da Igreja, não disse que estaria tão morta quanto o Homem, mas morta como as ideologias, que hoje, fazem concessões para agradar o "eleitorado", desvirtuam-se, deitam fora a cartilha em nome da alternância de poder. Se a Igreja (nós, pessoas que se juntam em nome do Deus que é Pai de Cristo, cristã) estivesse "actualizada" em relação a todas as tendências da moda, deixaria de ser uma identidade. Teria um valor tão relativo como tudo o que nos rodeia nesta lógica de mundo. Imagina o que seria veres-te obrigado a mudar todas as tuas posições só para que ficasses a concordar com os temas quentes da actualidade. Teres de deixar de seres o que és porque os outros não gostam. É precisamente isso que querem fazer à Igreja.

Anónimo disse...

conclusão: ninguém sabe, entende, prova absolutamente nada. esta discussão para além de universal é inteligivelmente absurda. Ninguém está de acordo em relação a Deus/Amor, amor existe por si só, não necessita de prefixo. Ninguém questiona a existência de um «deus», isso é estar a admitir que a entidade poderia ter lugar, logo não se acusa nem se ouve, nem se usa como bode expiatório para o mal. Obviamente também não tem sentido dar-«lhe» graças.... O homem, como ser pensante que é ouve-se a si mesmo, ouve os seus semelhantes e o mundo natural ou transformado à sua volta. A ÚNICA COISA QUE PODEMOS CRITICAR JOÃO SÃO HOMENS IGUAIS A TI E A MIM que compram títulos de legitimidade para poder enunciar condutas, «itinerários de caminhadas», segundo os quais eu e tu não somos capazes de pensar e agir em nome do bem, precisamos desesperadamente de uma entidade superior que nos imponha limites e freios para que nenhuma ovelha se evada do rebanho. (give me a break, lol)
Essa entidade superior chama-se «deus» e personifica-se no Homem. Logo, eu respondo, critico o homem e as suas instituições, não teço comentários àquilo que não conheço. E a tal ideia de «deus» que se manifesta "nessa ausência de medo perante a morte, na ausência de ressentimento perante a adversidade"??? Confirmo que é uma "IDEIA" que prevalece e supera todas as formas de mal, o homem denominou-a de «BEM» antes de sugerir o conceito tardio de «deus». Há coisas que não deveriam mudar, esta é uma delas. O conceito de «deus« é posterior à ideia de bem, foi introduzido pelo homem com um único propósito. A ideia de bem é intemporal, o conceito de «deus» é limitado espacial e temporalmente logo não morre porque não tem vida, não cresce e não evolui, como tu próprio o disseste tão simplesmente. E isto, toda a gente é capaz de entender.

Neves dos Santos disse...

Acredite-se ou não em Deus (e isso não faz sentido discutir), o facto é que qualquer ideia de Bem ou de Mal não é anterior à percepção do Homem acerca de Deus, de um qualquer deus ou deuses, conforme se tratem de religiões politeístas ou monoteístas. Sempre se acompanharam. Mesmo nas comunidades primitivas o Homem teve uma relação com Deus/deuses. Do Sol, da Fertilidade, da Guerra, da Caça... Não há um único conceito sequer, que faça parte da vida, que não tenha uma ligação (legitimação, se quiseres), com uma entidade divina. Procura em qualquer cultura. Aliás, recomendo aos caros leitores/comentadores a leitura de T.S. Elliot acerca da cultura. Existe na Fnac.
Concordamos uma vez mais que só podemos criticar homens e mulheres iguais a nós. Nada mais acertado!