terça-feira, março 07, 2006

Os cábulas da Europa

Continuamos a ser importadores. Há cinco séculos que o somos e, se no início desta estratégia conseguimos ser competitivos com interposto comercial de especiarias e matéria-prima então desconhecidas na Europa, desde o século XIX que o fazemos de forma completamente ineficaz, salvo a excepção das artes, da arquitectura e da literatura, em que os chamados “estrangeirados” como o Eça se revelaram grandiosos contributos para a cultura portuguesa.

Ontem Sócrates visitou a Finlândia para se inspirar naquele modelo de sucesso. Como o cábula que se senta, durante o exame, ao lado do melhor aluno da turma. Revela perspicácia do primeiro-ministro mas uma igual dose de irrealismo e preguiça. Tentar importar o modelo de uma sociedade que nada tem a ver com a nossa, latina e mediterrânea, é quase comparável aos erros cometidos em África quando se tentaram implementar sistemas políticos e sociais à semelhança do que se praticava nas democracias europeias. E vejam no que deu...

Ainda ninguém se lembrou que é a mentalidade que está inquinada. O “modelo finlandês” surgiu num contexto de recessão no início da década de 90, é certo. Como a nossa dez anos depois. Mas já então o Estado social daquele país nórdico era altamente desenvolvido, ao contrário do nosso até nos dias de hoje. Lá, havia uma interacção entre sectores público e privado e entre universidades e empresas, baixos níveis de corrupção e altos níveis de confiança no Estado, uma forte identidade nacional, construída historicamente contra a ameaça de grandes vizinhos externos. Vá-se lá encontrar comparação com Portugal...

Outra coisa de que ainda ninguém se lembrou de referir é que, para se ser grande em planos tecnológicos tem se desenvolver tecnologia e, que eu saiba, não temos nenhuma empresa tipo Nokia ou Siemens... A única coisa que conseguimos exportar são os “cérebros”, e que de nada nos servem, o vinho do Porto (maioritariamente de capitais britânicos), o vinho da Madeira e a cortiça (graças a Deus que temos o Mourinho a defendê-la além fronteiras).

Não é a copiar que vamos ser brilhantes, sobretudo porque nem sequer alcançamos o significado do que o nosso colega finlandês está a escrever na folha de exame. Podemos até passar mas continuamos medíocres.

28 comentários:

Anónimo disse...

subscrevo...
Até podemos copiar a raiz da solução, desde que os seus meios de implantação se adaptem aos espaços físico e cultural em questão. Como foi referido logo no início, o caso da arte, da introdução dos estilos além-fronteiras, nacionalizando-os e até regionalizando-os, resultou em grande parte.

Katharina disse...

Uma coisa é copiar, outra bem diferente é aprender! Os modelos de sucesso são úteis e devem servir como fontes de inspiração.
Claro que é completamente rídiculo pensar em importar modelos de sucesso e esperar que funcionem numa cultura e numa organização social e política completamente diferente!
Lembro-me da minha faculdade... Os dois primeiros edifícios da Faculdade de Ciências da UL (na Cidade Universitária) foram comprados a empresas suecas - inspirados nos edíficios de universidades suecas -, e portanto, existem uns cacifos estreitos e compridos em todas as paredes dos corredores... Perguntam para que servem? Para colocar os esquis... Ora pois, é o que mais falta nos faz em Portugal! ;)

Mipo disse...

lá está... enquanto nos avaliarmos pela bitola dos outros vamos sempre chegar à conclusão de que somos péssimos.

@ndrei@zul disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
@ndrei@zul disse...

e pra além de que antes de mudar as mega estruturas tem que se começar por baixo.. mudar hábitos e manias.. eliminar o mau.. mas também fazer isso, as mentalidades de ir copiar os outros ainda têm que mudar primeiro.. e sinceramente, na minha opinião, o problema de Portugal é tão só o pessimismo e saudosismo.. e foi isso que constatei enquanto vivi na Holanda! porque por estranho que pareça temos características parecidas com as deles.. só que quando algo não funciona.. eles avaliam e tentam mudar pra melhor e nem sempre corre bem mas vão tentando..
baci

Father R. Filipe disse...

O problema em Portugal é que se discute muito e passa-se a vida a dizer mal, Mais acção e menos conversa....Pq não se fala de coisas boas no paìs? É um conselho que faço ao nosso blogger...e a alguns comentadores de bancada lolol
Pela vez temos um PM como deve ser que toma medidas e fala pouco....mesmo assim amanhã é um dia de luto....Tomada do Bush português a PR.

Anónimo disse...

Um PM que toma medidas e fala pouco?? Tomada do Bush português a PR?? Estás doente ou equivocado?? (bem, vamos ficar por aqui que religião e política sou eu que censuro agora, lol)

Father R. Filipe disse...

OH NÃO OU ENTROU EM CAMPO O BE OU PSD.......SOCORRO!!!

7 WORDS FOR CAVACO.... _ _ _ _ YOU!!

Father R. Filipe disse...

E mais uma Neptuno.....Chá, Café ou Laranjada?........

Anónimo disse...

Olha meu reaccionário de 3ª lol, Partidos Políticos não são Clubes de Futebol, como alguém me clarificou um dia. Pela tua resposta és partidário. Eu não sou, nem serei. Para isso curtirias viver numa monarquia, é a mesma coisa, já que votas partido x para PR independentemente do tipo que lá está.

Father R. Filipe disse...

Ponto nº1 sim sou partidário e com muito orgulho
Ponto nº2 Isto não é uma monarquia e não é a mesma coisa....se quiseres empresto-te um livro ou dou-te umas lições sobre isso...
Ponto nº3 Para PR voto em pessoas inteligentes e com capacidades coisa que não encontro no Cavaco
Ponto nº4 Não me vou identificar com o PR que sobe ao poder amanhã logo acho que Portugal está de luto....

Morlock disse...

Para o deadman e para a neptuno!!
Vão pros copos que bem precisam!
Para o jarhead: É um Pais nórdico não é? Nuff said.

Father R. Filipe disse...

Eu ia com o Neptuno para os copos mas ele nunca quer....queria brincar ao brokeback Mountain LLOLOLOLOL

Agora é que vou ser morto......

Morlock disse...

Eu até acho piada à ideia de viver em monarquia, mas não com um rei que precisa da ajuda do jardineiro para ter filhos.
O deadman a dar lições sobre monarquia e democracia e a falar de livros?! A minha alma esta parva. E lá tás tu outra vez a falar do brokeback. Ficaste fascinado com alguma coisa que se passou no filme, não é!
Este post não era suposto ser sobre o ridiculo deste governo querer imitar o modelo finlandes na educação?

Morlock disse...

"Tentar importar o modelo de uma sociedade que nada tem a ver com a nossa, latina e mediterrânea,"

Desde há muitos anos que vivemos com esta ilusão de sermos uma sociedade latina e mediterrânica, quando a nossa fundação como pais foi baseada num modelo inspirado mais ao norte ( a frança, apesar de ser latina pela lingua, e germanica e celta pela população)!

Ao vivermos constantemente nesta (des)ilusão de sermos mais africanos do que europeus (como se ser europeu fosse alguma vergonha), achamos que os modelos sociais do norte da europa não se aplicam a nós, quando na realidade estes não se aplicam porque somos preguiçosos enquanto povo e precisamos de lideres fortes que nos "obriguem" a trabalhar com um objectivo comum. Nós só queremos saber de direitos, os deveres são para os outros. isso não é ser "uma sociedade (...)latina e mediterrânea", mas sim uma sociedade completamente desprovida de qualquer noção de solidariedade e de responsabilidade.
Eu sou europeu e com muito orgulho, sou português ainda com mais orgulho. Mas este orgulho não me cega para os defeitos da sociedade em que eu vivo!

Morlock disse...

"(graças a Deus que temos o Mourinho a defendê-la além fronteiras)."

Este comentário irónico até teria piada se não fosse triste.
Porque é que nos irrita tanto um português a fazer tanto sucesso como o Mourinho? Nunca ouvi comentários semelhantes sobre o Eduardo Serra, o António Damásio, o António Vitorino. Será porque é só um simples treinador de futebol e isso não gera emprego e riqueza para o país? E os outros que eu mencionei, geram? Ou ficavamos mais felizes se fossemos escolher uma celebridade estrangeira para divulgar os nossos produtos no estrangeiro? Parem de criticar o homem e exijam um como ele no governo. Ficavamos todos a ganhar.

Ricardo Fortes disse...

Gostei muito deste ultimo comentário do thethingthatshouldnotbe. Ao contrario do anterior (do mesmo autor) mostrou que, tal como penso, nós os Portugueses, não somos piores nem melhores que os outros povos. Temos bons e menos bons, e temos alguns excelentes, tal como aqueles que exemplificou.
A nossa latinidade e mediterraneidade são caracteristicas que nos conferem mais qualidades que defeitos, ao contrario do que habitualmente nos querem fazer crer. Experimentem trabalhar com Alemães por ex... O problema é que damos mais "tempo de antena" aos defeitos, e temos um comportamento que por vezes anda longe do melhor que podemos e sabemos. O que é necessário é acabar com a cultura instituida e miserabilista dos "coitadinhos", e tentarmos tanto quanto possivel utilizar a nossa identidade para sermos excelentes. Copiar o que os de fora têm de bom não faz mal a ninguem, desde que adaptado à realidade que vivemos (não usamos esquis) e sempre numa perspectiva de, se possivel, melhorar essa cópia com o que temos de bom.

Qto a politiquices, são contas de outro rosário, e lamento desapontar o thethingthatshouldnotbe, mas acho que os putos do nosso gei (os pgincepes) têm a fronha do pai, por isso aponto mais para uma solução baseada em inseminação artificial ou similar...

Morlock disse...

Realmente damos mais tempo de antena aos defeitos do que as qualidades. Mas que somos preguiçosos, la isso somos. Nós só saimos à rua e protestamos quando nos toca a nós. Será que começarmos a defender os nossos direitos e a cumprir os nossos deveres com mais responsabilidade não seria uma boa mudança de mentalidade? Já agora pula, vê lá este: http://historiasdoscopos.blogspot.com

Neves dos Santos disse...

Agradeço os comentários de "thingt hat should not be" e "o pula" e estou de acordo com ambos. Já fui inclusivé apelidado de "nacionalista exacerbado" quando defendi que não se deve desrespeitar os símbolos do País, que temos o dever de cidadania. Nunca desejei ser outra coisa que não português.
Considero muito positivo querer desenvolver planos, a todos os níveis, desde a educação à saúde e tecnologia mas não compreendo (e espero ouvir quem me convença) por que estamos constantemente a passar um atestado de estupidez aos nossos profissionais, técnicos, académicos e a “importar” modelos e gestores para as nossas empresas, em vez de os e as criarmos. Por outro lado, ainda que possamos encontrar traços da nossa identidade em origens franco-alemãs e celtas, é de reconhecer que não os acompanhámos no desenvolvimento. O único aspecto triste da sociedade contemporânea portuguesa que saliento é que passámos os últimos 30 anos com vergonha da nossa história, e é daí que vem esta incapacidade de sermos inovadores “por conta própria”. Porque acham os políticos, acima de todos, que estamos em dívida com o resto do mundo por termos tido colónias em África e por termos tido um regime autoritário durante várias décadas.
Por último, para que não fiquem dúvidas sobre o que digo, não me irrita nada o sucesso de José Mourinho, que se tem revelado um profissional eficiente e leva o nome de Portugal ao mundo pelas melhores razões. Por isso mesmo usei a expressão “graças a Deus que Mourinho defende o que é nosso além fronteiras”. Porque poucos como ele conferem credibilidade a Portugal, ao contrário de outros que, apesar de desempenharem cargos de responsabilidade na Europa, não olharam para trás quando abandonaram o compromisso que assumiram com o País (e sim, estou a falar de Durão Barroso), mas também de António Guterres, que quis fugir do “pântano” que criou durante os primeiros anos do seu governo.

@ndrei@zul disse...

todos os dias, ao visitar o teu blog, sou surpreendida com a capacidade que "ele" tem de gerar controvérsia e polémica.. deves ter um dom qq pra isso... =P
a verdade é que o que penso mesmo é que as pessoas andam sempre à espera de poderem atacar.. e reagem sempre na defensiva.. uma opinião tem o valor que tem. e tu, pelo que conheço, nem sequer consideras a tua superior a nenhuma outra.. parece é que há sempre alguém pronto para expor os seus argumentos ferozmente.. os debates, sejam a que nível for, devem gerar coisas produtivas e soluções não "violências". mas a ideia que tenho é que andamos todos tão agarrados à nossa opiniãozinha que não há quem nos contrarie. parecemos crianças que não emprestam o seu brinquedo nem por nada! é meu e acabou!... os debates deviam ser por isso, na minha mais que modesta opinião, algo mais no sentido de partilha de pontos de vista diferentes e de enriquecimento e parece-me (podendo parecer-me mal..)que não é bem disso que andamos todos à procura... enfim.. mea culpa também!
baci, baci

@ndrei@zul disse...

mas olha não és uma pessoa nada indiferente para os outros e sempre vais tendo audiência.. =P
inté!
baci

Morlock disse...

Para o Jarhead:
Quanto ao "Furão", tens razão. Fugiu assim que pode.
Agora quanto ao "É fazer as contas", calma. O tipo só se foi embora porque lhe disseram que arranjavam um cargo onde ia poder conhecer a Anjelina "Goddess" Jolie.
Eu também queria! :-(

Já agora, quando eu disse que temos raizes germanicas e celticas, não quis dizer que tivessemos efectivamente seguido o seu ritmo evolucional, mas como tu dizes e muito bem, vamos passar o resto da nossa existencia a ter vergonha do nosso passado e a pedir desculpas aos paises africanos por terem sido colonias.
Chamam ao "bochechas" o pai da pátria. LOL!! Para ter um pai assim eu preferia ser orfão. Além do mais, não foi o outro maluco que deu porrada na mãe e fugiu para Lx que fundou este pais??? Ainda sobre o "bochechas", não é que o tipo nem sentido de estado teve para cumprimentar o "nunca me engano"?! E queria ele ser presidente. Ia ser só barraca protocolar. LOL!!

PS: Eat this, deadman.

Father R. Filipe disse...

Já me ouviste dizer alguma vez que o homem era o pai da pátria? não pois não......
Vá e toca mas é tudo a trabalhar, é por isso que este país não anda......

Mipo disse...

Xiiii... o regabofe que vai para aqui! O meu contributo para a barulheira:

o nosso modelo até pode ter sido inspirado em países mais ao Norte da Europa, mas, para todos os efeitos, a gente não vive lá, 'né? Para todos os efeitos, vivemos num país mais a Sul, entalados entre espanhóis e água, entre fronteiras fruto de uma improbabilidade histórica (se virmos o resto da península ibérica), em grande parte conseguida por aquele gajo que bateu na mãe (e acho muito bem que isto assim é muito mais giro e sempre evitamos ter a ETA a rebentar-nos bombas em cima).

Também nos poderiamos comparar com outros países da Europa; há bem pior (em termos de "evolução e desenvolvimento").

Reduzir o país todo a um bando de preguiçosos, parece-me algo irracional. Está mais que visto que não somos alemães, mas sempre há gente que trabalha.

p.s.: o "bochechas" é um ordinário; se não queria cumprimentar o "nunca me engano", não tinha aparecido na tomada de posse

Father R. Filipe disse...

E o Cavaco é o q mipo? O "Messias"? lololol

Vamos cantar todos Mushaboom Mushaboomm....lololol

Morlock disse...

Em relação ao ultimo comentário da @ndrei@zul, e apesar de também já ter mandado para aqui umas "postas de pescada" mal cheirosas, concordo com ele (o comentario). Uma vez um amigo meu disse-me, e com razão, que pareçemos todos uma cambada de autistas aos berros uns com os outros. Mas eu ainda prefiro o conflito à inação e a discussão ao nacional-porreirismo do politicamente correcto.

Mipo disse...

não, não é o Messias, mas, felizmente, também não é o Soares!

Father R. Filipe disse...

Qual deles o pior....